O Staret e a Imperatriz - Parte 2

O que se passava na mente da bela imperatriz iludia os sentidos do staret. Mas isso seria remediado em breve. Ele sabia reconhecer um pedido de socorro quando via, e a única questão que agitava o seu plácido lago de pensamentos era "Como?". Recorreria 'a um velho hábito que o ajudaria a pensar: Um passeio nos jardins seria perfeito! Afinal, mais alguns segundos imerso no olhar da Imperatriz certamente seriam sua perdição, pois a feminilidade sob véus atiçava muito mais seu desejo do que qualquer outro artifício.
Colocando a taça, agora vazia, na bandeja do servo mais próximo, fez uma mesura quase imperceptível e buscou o relativo conforto do frígido ar de inverno. Sair daquele ambiente almiscarado e bruxeleante lhe faria muito bem. Sua alma espartana não se sentia muito bem em lugares que sobrecarregavam seus sentidos com o decadente odor da manipulação e o gosto ácido da inveja palaciana. Mas o negrume do céu sobre sua cabeça, o reflexo da face escura, e o nascer do disco prateado sobre os Urais, isto sim, era a sua casa. O vento frio corria pelo seu rosto como uma nascente, e o Luar tingia tudo 'a sua volta numa paisagem quase feérica. O caminho de pequenas pedras levava 'a um jardim de inverno, parcialmente oculto pelas altas sebes que pareciam formar um pequeno labirinto verde-acinzentado.
Ele precisava refletir. O seu tempo de noviciado estava acabando, e em breve ele deixaria o relativo conforto de seu monastério para começar suas peregrinações. Não que a solidão o amedrontasse tanto assim. Ele havia feito as pazes consigo mesmo há anos atrás. O que certamente seria um problema seria o estilhaçar do seu elo com algo que para ele, era mais importante que sua própria vida. No entanto, ele recorrera ao Mosteiro em busca de uma cura para a maldição de seu sangue, a maldição que trazia em si o néctar da união com...
Um farfalhar de folhas distraiu sua concentração. Ele não estava mais sozinho no jardim, provavelmente um nobre bêbado ou algo do tipo.
[ Continua ]