23.7.03

Os miseráveis

            Não, meu adorável rabite, infelizmente esse post não tem nada a ver com a magistral obra de monsieur Hugo. É apenas mais um desabafo, como têm sido muitos posts nesse blog - uma espécie de válvula de escape cotidiana contra uma realidade que me oprime e me divide. Minha vida parece cada vez mais com um péssimo roteiro de x-men (aragonés que o diga) "...preso num mundo que não criou etc etc etc ad nauseaum".
            Que não me sinto confortável em ter voltado para a casa de minha mãe após três anos da mais absoluta liberdade, meus amigos sabem. Que toda a situação, por vez ou outra, me coloca realmente pra baixo, alguns sabem. Que eu me sinto um "dead man walking" (Como na música do Bowie que berra no meu som agora) acho que apenas eu. Momentinho.
(...)
            Agora mesmo o meu pequeno demônio pessoal abriu a porta aqui do meu quarto para pedir que eu troque o garrafão de água amanhã. E é sobre isso o post. Quer dizer, não sobre o garrafão de água. É sobre a coisinha de chifres e elmo negro que faz questão de tornar minha pacata vidinha um pouco mais insuportável quase todos os dias.
            Bater na porta, nem pensar. Demônios são incapazes de aprender boas maneiras. Não todos, mas a ralé é ralé em qualquer lugar. São capazes de colocar bebidas e quitutes na cozinha, mas ai de você se pensar em comer o que é bom primeiro! O que para mim é um ato de lógica, para esses estranhos seres involuídos é quase um pecado capital. Como se você tuvesse que passar por uma pequena expiação gastronômica, por uma crise que só se materializa ao bel prazer dos mesmos. Afinal, ai de você que acordou com vontade de beber refrigerante - a três reais a garrafa, 1,50 o litro, 0.50 centavos de real o copo - que beba o mate fervido e refervido, com gosto de lápis 2B, porque não se pode gastar. Não que isso faça muito sentido quando se viaja para São Paulo na mesma semana - gasto mínimo de R$150. Ou se compra cacarecos na feira de garagem da amiga - pelo menos R$20 ali, completamente desnecessários. Claro, como ser econômicamente fracassado que sou, não deveria nem estar chateado pelo jeito que ela gasta o dinheiro, afinal, é fruto do suor dela.
            Afinal, que importa, se você teve um dia de absoluto caos no escritório e quer beber um copo de refrigerante quando acorda? Malditos miseráveis de alma, de mente, que fazem questão de me tirar até os últimos centavos de paz que possuo. *suspiro*.
            Claro, eu bem sei que eu não devo esperar nada porque esperar é vir-a-ser, é de-vir, e isto é ilusão e sofrimento. Para sufocar a raiva é necessário entendê-la, e ao olhar nos olhos do lobo que rói o meu peito vejo que ele nasceu da divisão entre o Eu vs Os outros, o que via de regra, é outra escabrosa mentira. Mas existe algo dentro de mim que se recusa a aceitar que essa escória aí fora, essa massa burra e ignorante, esses frustrados e preconceituosos de merda, esses seres tão inseguros também são "eu".
            Mas, no final das contas, ao se retirar da equação os valores relativos fica apenas "purificar a mente", = 0...a velha e boa equação do equilíbrio através da soma dos opostos. Para atingir o desprendimento, devo me tornar um pouco mais medíocre? Ainda não entendo.
            I wanna be sedated!!!!

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