7.10.03

A casa sem janelas


         Sempre que imagino uma boa prisão, imagino um modelo bem diferente do Panóptico, de Foucault. Imagino um lugar aparentemente sem limites. Basta exceder a capacidade natural do prisioneiro de percepção e deslocamento. A ilusão de liberdade é a melhor prisão. Em seguida, pensaria em algum tipo de condicionamento radical para que o preso não se lembrasse de como era não estar preso, e assim não se sentisse desconfortável ou saudoso, o que acionaria sua vontade de escapar. Porém, para ocasionar esse tipo de reprogramação psíquica seria necessário um trauma físico intenso, seguido de distorção de percepção e uma reeducação brutal. E como evitar as agremiações, e que esta prisão perdesse a finalidade de reeducação para se tornar um clube de campo? Seriam necessárias algumas sanções, penas físicas, e uma certa dose de arbitrariedades para criar um clima de receio que o isolasse um dos outros. Claro, os carcereiros não deveriam ser vistos em hipótese nenhuma, assim estariam completamente seguros e poderiam observar os internos livremente. E quanto a admissão de novos presos? Certamente seria um risco 'a estabilidade da prisão - deduziria-se a existência de um mundo externo com recém chegados. Seria necessário que os internos encarassem a chegada de novos presos como consequência de suas próprias ações, algo tão previsível que deixaria de ser inédito. Digamos que cada vez que um deles abraçasse outro, chegasse mais um interno.
         Por fim, basta vincular a libertação a algo tão horrendo que nenhum dos presos, em sã consciência, iria sequer sonhar com ela. Voilá, a prisão perfeita!

         1 - O universo é "infinito"
         2 - O processo de encarnação, se existe, deve ser um tanto quanto traumático.
         3 - A carne limita. Deforma. Distorce.
         4 - Nossa tão-chamada civilização é uma sequência de supressões de coisas/hábitos inerentemente "nossos".
         5 - Alguém aqui viu deus?
         6 - Um ato de amor traz ao mundo uma criança.
         7 - A morte é a liberdade.




Disclaimer obrigatório: Pessoas, isto é um exercício de ficção, um imenso "what if" engraçadinho, não querendo dizer que eu realmente acredite nisso...

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