25.10.14

Bullying Religioso everywhere

Pois é, alienado de notícias que realmente importam por excesso de trabalho, você descobre que um diretor conhecido e capaz (del Toro) resolveu fazer uma animação que apresenta de uma maneira linda uma parcela da cultura Mexicana, em especial sobre "El dia de los Muertos" e o relacionamento especial que o povo Mexicano tem com a morte. Legal. Ingressos comprados e vôo pro Imax 3D.

Entro no cinema, e o tempo voa. A estória do Toureiro que quer apenas ser um Mariachi, do soldado que quer ser herói, e da menina que ousa gostar de livros e não se dobrar ao machismo reinante encanta. Gargalhadas, personagens ótimos, uma meta-estória dentro do filme; o casamento entre a cultura ancestral meso-americana e a cultura de hoje (em uma deliciosa fusão de La Santissima Muerte e Calavera Catrina em um só personagem) e tantas outras características fazem que eu me apaixone pelo filme,

Claro que sou parcial para o tema. Se olharmos um pouco mais a fundo para o roteiro, vamos encontrar diversas idéias que me agradam: Forças cosmicas em equilibrio na grande dança que é a vida em Gaia; a noção de que a Morte não é um grim reaper mas uma senhorita simpática que nos ama e quer que aproveitemos cada segundo de nossa vida; a idéia que os Deuses Antigos não são tão distantes assim; o culto aos Ancestrais e como eles participam, de maneira direta, de nossa vida; e outras tantas.

Recomendando o filme pra amigos, descubro quepegaram  o título "Book of Life" e enfiaram uma tradução tabajara em cima,  "Festa no Céu".

Peraí.

Não sou Católico, mas já fui um dia, e estudei a bíblia por seis anos e fui a missas regularmente. Posso dizer, com base nisso, que estes temas não encontram guarida no Cristianismo sem que sejam pesadamente alterados. São interpretações e nuances que encontram abrigo muito mais fácil no folclore de um povo eclético, ou no paganismo (em tantas vertentes!) do que no dogma cristão.

Então...WTF?

Ato digno da miopia cristã que não se contenta em pautar e restringir a vida para si e deseja enfiar seu códice maniqueísta goela abaixo dos demais. Não me surpreende, mas ainda me revolta. Aí você me pergunta: Berzins, o que tem demais de mudar isso? Você não tá exagerando?

Devo estar. Afinal, não é como se as minorias religiosas e ateus tenham que conviver com simbolos religiosos nas reparticoes publicas, frases de exortação ao monoteismo na Constituição Federal e na moeda que usamos para pagar as contas, e a tirania do "Ah mas você acredita em Deus, né" e toda a ignorância que ela carrega. Não não, isso não acontece, e se acontece, eu devo estar sendo hipersensível, né?

Não, símbolos nunca foram usados pra oprimir (olá Alemanha em 1936!), e reducionismo nunca foi utilizado para destruir, não é mesmo? Eu devo estar exagerando.  Devo estar exagerando em ousar querer que não se utilizem de traduções porcas pra enfiarem seu dogma cristita goela abaixo dos outros, dando a entender que o conceitro de "Céu" como pós vida é usado pelos Mexicanos, mesmo que claramente na animação o mesmo fique EMBAIXO da terra, como no conceito xamânico de submundo!

É exatamente como os Jesuítas faziam: "Veja, Deus, Tupã, são iguais, vocês só entenderam errado. Siga o que eu digo. Veneramos o mesmo Deus". E sabemos onde isso vai dar. Só que antes, disfarçavam a colonização religiosa com miçangas, espelhos e adereços. Hoje usam apenas a "boa intenção".

Se preciso defender um direito, é porque ele não é tão universal assim. Fica a dica.

2 comentários:

abyssiniancat disse...

Grande! Quero ver o filme (que ainda nem foi publicizado por aqui)...

E educação religiosa é um ponto delicado aqui em casa... Basta dizer q o jardim de infância é em um edifício doado pela igreja... They start them young here...

Margot disse...

Acabei de lembrar q não vi esse filme. E q estão faltando posts pra 2015... ;)